O nome do delegado Alex Assmann tem sido usado por estelionatários para tirar dinheiro de vítimas do golpe dos nudes. Desde junho, o titular da Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA) de Lajeado, no Vale do Taquari, recebe dezenas de ligações de pessoas que acreditam que estão sendo ameaçadas pelo policial via aplicativos de mensagens.
O crime começa a partir de um convite de amizade de uma mulher jovem pelas redes sociais e o início de uma conversa. A troca de mensagens migra para o WhatsApp e os diálogos avançam para a troca de fotografias íntimas, popularmente conhecidas como nudes. A jovem então some e entra em cena o estelionatário se fazendo passar pelo delegado Alex Assmann.
Em outro numero do aplicativo de mensagens e usando fotos do delegado encontradas na internet, o suposto policial avisa que a jovem seria uma adolescente e que a vítima praticou crime de pedofilia ao trocar imagens íntimas com ela. A pessoa que se passa por delegado pede dinheiro para arquivar a ocorrência.
O golpe dos nudes não é novo. É investigado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul há mais de um ano, mas o uso do nome de delegados se tornou uma forma de sofisticar o crime. O delegado André Anicet, da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), afirma que já identificou o nome de pelo menos 10 policiais que são usados em extorsões desse tipo:
— Colocam a parte do "policial" para tentar dar mais credibilidade à história. Infelizmente, a gente vive em uma sociedade em que muita gente prefere pagar do que responder pelo crime. E a vítima acredita que pagando eles vão parar. Mas não é o que acontece, continua sendo extorquida para pagar mais e mais dinheiro.
Maioria das vítimas são homens
Delegado há 10 anos, Assmann conta que pessoas de outros Estados passaram a ligar para a DPPA de Lajeado pedindo para falar com ele, perguntando se o policial estava em contato com elas:
— Gente de Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Maranhão, Distrito Federal e Minas Gerais. Me perguntavam: "O senhor me ligou? Mandou mensagem?". 99% são homens, que falam constrangidos que precisam falar só comigo. Alguns demoram até a abrir a história. Muitos chegaram a depositar os valores de R$ 1 mil, R$ 2 mil até R$ 3 mil.
Anicet afirma que o golpe também tem feito vítimas gaúchas e orienta o registro de ocorrências _ que pode ser feito pela Delegacia Online. Assmann alerta que a mesma pessoa que se passa pela jovem pode se fazer passar pelo policial, sem que a vítima desconfie.
— O estelionatário compra um chip em qualquer lugar, cria um perfil falso e coloca uma foto minha que achou em pesquisas na internet. Na foto, estou com camisa da polícia. Chegam constrangendo a vítima dessa forma, que fica aflita e preocupada e acaba depositando. Às vezes, não deposita e se dá conta que é golpe — conta Assmann.
Antes de conversar com pessoas que se dizem delegados, é importante ter conhecimento de que a Polícia Civil não entra em contato com vítimas ou suspeitos de crimes por aplicativos de mensagem. Por ser um órgão público, suas ações passam por formalidades, como ofícios e intimações.
— Não vou ligar ou começar a conversar com alguém sobre investigação. Chamamos a vítima ou o suspeito na delegacia formalmente. É um trabalho que segue uma oficialidade. Se tu é suspeito, a polícia vai bater na tua porta, com uma intimação e te chamar na delegacia. É assim que funciona — diz o delegado.
Em uma das ligações, uma vítima de Rondônia perguntou se Assmann trabalhava no Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca), pois a pessoa nas mensagens havia feito essa afirmação. Assmann nunca foi lotado no Deca.
Crime tem origem nas penitenciárias gaúchas
Tudo na internet deixa rastros e são estas pistas que a Polícia Civil utiliza para chegar até os criminosos. Perfis falsos, números de telefones, contas bancárias e ligações podem ser rastreadas. No Estado, o crime é praticado por várias pessoas, segundo Anicet, e, na maioria das vezes, tem origem dentro das penitenciárias.
— Já cumprimos mandados de busca nas penitenciárias de Charqueadas e Montenegro e no Presídio Central. Pegamos celulares e elementos para apuração e responsabilização dos envolvidos. Todos os que conseguimos identificar até hoje vêm de dentro de presídio, usando pessoas de fora para arrecadar os valores.
Como não cair no golpe
(FOTO: DIVULGAÇÃO / POLÍCIA CIVIL)