Os Estados Unidos autorizaram o início das vendas de carne cultivada em laboratório. Com a decisão, o país se torna o segundo do mundo a regularizar o mercado emergente de novas proteínas, atrás de Singapura. Por enquanto, os estabelecimentos poderão vender apenas carne de frango, criada em biorreatores.
Antes da decisão anunciada na quarta-feira (22) pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), outros órgãos do governo e pesquisadores avaliaram a segurança e a viabilidade do consumo de carne cultivada em laboratório. Inclusive, a agência federal Food and Drug Administration (FDA) deu parecer favorável.
Com a decisão histórica, duas empresas da Califórnia, a Upside Foods e a Good Meat, já podem iniciar as vendas desse novo tipo de frango por lá. É importante destacar que esta não é uma opção vegana, já que leva células de animais na sua composição, mas não envolve a criação em cativeiro e nem o sofrimento animal.
Quando a carne cultivada de frango chega ao mercado?
Inicialmente, a Upside Foods irá fornecer a proteína cultivada em laboratório para o Crenn Bar, em São Francisco. Enquanto isso, a Good Meat destinará a sua produção para um restaurante em Washington, mas ainda não divulgou o nome do estabelecimento.
Com dois pontos de venda no país inteiro, é fácil entender que, por enquanto, o foco não é abocanhar todo o mercado. Na verdade, isso nem é possível com o atual nível de desenvolvimento da tecnologia. Embora as empresas não divulguem a capacidade de produção mensal da carne cultivada, sabe-se que o montante não seria suficiente para abastecer redes nacionais de supermercados. Em outras palavras, o sonho de comprar uma bandeja de peito de frango cultivado no mercado ainda é distante.
Como é feita a carne de frango no laboratório?
A questão do escalonamento da produção está intimamente ligada com o mercado emergente para esse tipo de produto. Se os dois primeiros pontos de venda derem o retorno esperado e a carne cultivada alcançar uma boa aceitação, é seguro prever uma onda ainda maior de investimentos, o que viabilizará a produção em larga escala.
Hoje, o processo de cultivo chega a ser quase manual, dependendo da coleta de células animais. Dentro dos laboratórios, em biorreatores, elas são “alimentadas” com água, sal e diferentes tipos de nutrientes (aminoácidos, vitaminas e minerais). No final, o que os cientistas têm é um amontoado de células, que serão formatadas de diferentes modos, como salsichas ou filés (sassami).
Diferente da versão tradicional, o produto final não contém ossos, penas, bicos, cascos e nem mesmo gorduras. Para deixar o alimento mais suculento, é necessário acrescentar uma capa extra de gordura — que também pode ser cultivada em laboratório.
Brasil vai cultivar carne de laboratório?
A decisão dos EUA deve ter um efeito em cadeia para os outros países, como costuma ocorrer, por exemplo, no mercado farmacêutico. É possível que reflexos do movimento sejam sentidos no Brasil durante os próximos anos.
Inclusive, pesquisadores brasileiros da Embrapa Suínos e Aves trabalham em um projeto pioneiro que busca criar nacionalmente carne de frango cultivada em laboratório. A expectativa é que o primeiro protótipo do trabalho esteja pronto até o final deste ano. Nesse momento, os cientistas deverão entregar para os testes nutricionais e sensoriais filés de peito de frango desossados. A iniciativa conta com o envolvimento do The Good Food Institute (GFI).
Em nota, o presidente do The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), Gus Guadagnini, celebrou a decisão vinda do governo norte-americano. “É mais uma etapa histórica para o nosso setor", afirma Guadagnini sobre as possibilidades futuras desse mercado que não envolve dor animal na obtenção das proteínas.
(FOTO: ARQUIVO RÁDIO SANANDUVA)